Hoje eu dei-te o meu dia, na esplanada afrontando o olhar dos outros
por motivos tão escassos. É a primeira oportunidade para uma nova estação, a natureza conspira no cimento à nossa volta. Mas eu acredito que toda a mudança venha apenas pelo fim de qualquer coisa e tu estás imóvel nessa cadeira, parece que nunca tiveste um princípio.
Onde estão agora as tuas razões, o que fizeste com a tua juventude? Não esperes que os pássaros te castiguem por perderes o dia e sufocares de noite. Eu não te posso salvar da tua angústia, baralhei os sinais por baixo de cada nome e escolhi as ruas à sorte. E tu não me podes obrigar a pensar de outra maneira, pobre de ti com as mãos encolhidas sobre o tampo da mesa. Nos dias de sol a tua sombra seria cruel para mim. E como eu te mentiria.
Rui Pires Cabral
música antológica & onze cidades
Coleção Forma, Editorial Presença
segunda-feira, 24 de junho de 2019
sexta-feira, 29 de março de 2019
quinta-feira, 28 de março de 2019
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019
Nada é duradouro
"Viste que nada era duradouro
desde muito pequeno.
desde muito pequeno.
Que uma flor arroga de aroma
abre e brilha
e cai depois no jardim.
E ainda que outras flores logo apareçam
- muito semelhantes - nenhuma delas
será a flor que despertou
os teus sentidos: aquela flor.
Pessoas, meses , chuvas e ânsias
Fugiram de ti em bicos de pés
para não te magoarem.
Mas tu aprendeste com uma simples
Mas tu aprendeste com uma simples
flor o amor ao que perece e a ferida do que já morreu."
José Agustín GoytisoloTornar habitável o deserto
Talvez seja o momento de.
Mesmo sem esperança. E ele escreve:
nenhum impulso para ti
neste espaço deserto.
Mesmo sem esperança. E ele escreve:
nenhum impulso para ti
neste espaço deserto.
Ele perscruta entre as pedras e as sombras.
Nada vê. Ignora. 0lha.
Que traços são estes,
qual a origem destas palavras nulas?
Nada vê. Ignora. 0lha.
Que traços são estes,
qual a origem destas palavras nulas?
Ele escreve. O seu desejo é o desejo
de tornar habitável o deserto.
de tornar habitável o deserto.
António Ramos Rosa in A nuvem sobre a página.
Lisboa: Dom Quixote, 1978.
Imagem de Maria João Alves
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Eco
Consigo ainda ver-te: eco
que pode alcançar-se pela palpação
das palavras, na aresta do Adeus.
Teu rosto amedronta-se docemente,
quando de repente.
se acende uma luz de lâmpada em mim,
no lugar onde, com a maior dor,
se diz Nunca mais.
No ar , mora a tua raíz, aí,
no ar
escavamos um túmulo no ar
para não se estar lá apertado
lá fora ao pé dos outros mundos.
( se eu fosse como tu. Se tu fosses como eu
Não nos mantivemos nós de pé,
Juntos, sob um mesmo vento contrário?
Somos estrangeiros.)
Maurice Blanchot, in
O último a falar
que pode alcançar-se pela palpação
das palavras, na aresta do Adeus.
Teu rosto amedronta-se docemente,
quando de repente.
se acende uma luz de lâmpada em mim,
no lugar onde, com a maior dor,
se diz Nunca mais.
No ar , mora a tua raíz, aí,
no ar
escavamos um túmulo no ar
para não se estar lá apertado
lá fora ao pé dos outros mundos.
( se eu fosse como tu. Se tu fosses como eu
Não nos mantivemos nós de pé,
Juntos, sob um mesmo vento contrário?
Somos estrangeiros.)
Maurice Blanchot, in
O último a falar
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019
Ouve
OUVE bem o que faz
A pólvora explodindo.
A pólvora explodindo.
Ouve bem o que faz
O frágil violino.
O frágil violino.
Poesias de Guillevic,
Editora Ulisseia
Editora Ulisseia
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