quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Nada é duradouro

"Viste que nada era duradouro
desde muito pequeno.
Que uma flor arroga de aroma
  abre e brilha
 e cai depois no jardim.
 E ainda que outras flores logo apareçam
 - muito semelhantes - nenhuma delas
 será a flor que despertou
 os teus sentidos: aquela flor. 
Pessoas,  meses , chuvas e ânsias
  Fugiram de ti em bicos de pés 
para não te magoarem.
 Mas tu aprendeste com uma simples
   flor  o amor ao que perece e a ferida do que já morreu."
 José Agustín Goytisolo


Tornar habitável o deserto

Talvez seja o momento de.
Mesmo sem esperança. E ele escreve:
nenhum impulso para ti
neste espaço deserto.
Ele perscruta entre as pedras e as sombras.
Nada vê. Ignora. 0lha.
Que traços são estes,
qual a origem destas palavras nulas?
Ele escreve. O seu desejo é o desejo
de tornar habitável o deserto.
António Ramos Rosa in A nuvem sobre a página.
Lisboa: Dom Quixote, 1978.
Imagem de Maria João Alves

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Eco

Consigo ainda ver-te: eco
que pode alcançar-se pela palpação
das palavras, na aresta do Adeus.
Teu rosto amedronta-se docemente,
quando de repente.
se acende uma luz de lâmpada em mim,
no lugar onde, com a maior dor,
se diz Nunca mais.
No ar , mora a tua raíz, aí,
no ar
escavamos um túmulo no ar
para não se estar lá apertado
lá fora ao pé dos outros mundos.

( se eu fosse como tu. Se tu fosses como eu
Não nos mantivemos nós de pé,
Juntos, sob um mesmo vento contrário?

Somos estrangeiros.)


Maurice Blanchot,  in
O último a falar

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Ouve

OUVE bem o que faz
A pólvora explodindo.

Ouve bem o que faz

O frágil violino.

Poesias de Guillevic,
Editora Ulisseia

domingo, 10 de fevereiro de 2019


Maria Teresa Horta, As Palavras do Corpo
(Antologia de Poesia Erótica)
Publicações Dom Quixote, 2012